segunda-feira, 9 de novembro de 2009

O papel político do artista na propagação da dignidade humana

Quando nos olhamos num espelho, pensamos que a imagem que temos diante de nós é exata. Porém, basta nos movermos um milímetro e a imagem muda. Estamos olhando, na verdade, para uma infindável gama de reflexos. Mas às vezes um escritor precisa quebrar o espelho – pois é do outro lado do espelho que a verdade nos encara. Apesar das enormes variáveis existentes, creio que a determinação intelectual destemida, inarredável e feroz, como cidadãos, de definir a verdade real de nossas vidas e de nossa sociedade, é uma obrigação crucial, que cabe a todos nós. Ela é, de fato, imperiosa. Se essa determinação não estiver incorporada à nossa visão política, não teremos esperança de restabelecer o que está quase perdido para nós – a dignidade humana.

Harold Pinter, discurso do Prêmio Nobel.



3 comentários:

Unknown disse...

muito bom a pesar de eu conseiderar a verdade volátil
mas
verdade auto determinada me parece possivel.
antes umd esejo, uma força, que uma delimitacão

Sissi Betina disse...

É claro que a verdade real não existe, ela é sempre uma realidade variável. Gosto desse discurso de Pinter, pois o dramaturgo propõe uma postura verídica do artista para consigo e seu trabalho, mesmo que ela seja relativa, como toda a natureza e os humores e as estações. Mas quando em si, ela é forte e deve ser guia, deve ser o trovão da tempestade, a eletricidade da força das águas, o orgasmo no amor. Submetemo-nos, vendemos e adaptamo-nos a ordens sem questioná-las. Estamos a serviço de que? O artista, portanto, que já está à margem da lógica que rege os sistemas de valor na sociedade, é político por ser. Ainda assim, ele muitas vezes se adapta a mentiras “compradas”, a “ganhos de jogo”, onde o mais é mais e ponto. Essa convocatória de Pinter, para mim, é importante para acordar as mãos, para tirar os pés dos sapatos e enfiá-los na lama se for preciso, ou na grama. A realidade é cada verdade individual que (rimando), na atualidade, relaciona-se com a vontade e deve reger a atividade. Quando chegamos na verdade - mesmo que ela nos escape em seguida, como um vagalume na noite que voltamos à buscar - estamos certos, em direção à luz das idéias, a caminho do desejo, da felicidade do ser, da dignidade humana.

Douglas Dickel disse...

Dream House, assim, corresponde mais à realidade real, ou melhor, a ilustra com beleza.