terça-feira, 28 de julho de 2009

... lesma

fugindo fugindo fugindo
fu
fu
fu
gi gi gir
(girfu) ir indo
ir ir ir
do do dô

não sei o que querer
o que querer
fuga do querer
fusca lerdo
fumaça
lesma
asma armadura
in ín dio
hipopótamo
lago parado
espelha o céu
nublado
atrás das nuvens
detrás...
de dê
descer no vento
o lago é de vidro
queda que que
quadro queda
quebra
raspa risca
rompe estilhaça
corta carcaça
casco caído lesma arrastada
devagar divagando
indo fundo
fuçando invadindo
fugindo fugindo
fu fu
deu.

yes, I know



(de Ben Tour)

>> seta >>>>>>>>

Seta para situar soturno pelado no sótão desacompanhado.
Está ardendo o cigarro acompanhando o sentido de apoiar o silêncio no cálice ardido, áspera barba protege a flor quase desabrochada; cactus bebe lágrima.
Dentes perfuram a cápsula escorre pasma crença dos olhos d´água, verde broto de trepadeira enraizado nas rodas de bicicleta, no salto sonoro que corre contratempo.
Que bate, que faz estrondo sem estrago, macio buraco no assoalho, poço sem água sem fim. Cartola sem coelho. Caixa de música no miolo do mundo. Seu suspiro eleva, a boca sopra sombra e venta, faz tempestade, ferve, jorra, é líquido, localiza-se nas linhas de um violão. Contradição: ser total sozinho.

Mais uma sereia...

... naufragada e feliz...




(foto de Margery Krevsky)

Amigos e Videos

Presente do Brummno...


quarta-feira, 22 de julho de 2009

Teresa está em Cartaz - Até 29 de julho!

até 29 de julho...





Teresa e o Aquário



Todas as Quartas-feiras de Julho, às 21h30, no Espaço OX (Ocidente Bar - João Telles, esquina com a Oswaldo Aranha)

Preço único: R$ 15,00 (ganha uma cerveja)


www.teresaeoaquario.blogspot.com



Críticas:

“(...) a mais concreta, orgânica e representativa experiência pós-moderna que já tive a oportunidade e o prazer de assistir nesta minha já longa vida pós-bonde e pós-máquinas Remington (...)”.

Luiz Paulo Vasconcelos – Revista Aplauso


“(...) Dá gosto e orgulho ver a coragem da Cia Espaço em Branco ao descartar fórmulas teatrais consagradas para contar sua história. Assumindo o risco, o grupo partiu da história para construir uma fórmula original, alheio a caminhos mais fáceis para o público e para o elenco (...)”.

Renato Mendonça – Segundo Caderno / Zero Hora


“(...) Um não sei tanto de sensações emotivas (...) Isso tudo porque estive numa pequena sala vivendo um grande teatro. E viva Artaud! E vivas a todos vocês! Obrigado.”

Arlete Cunha


“(...) Teresa e o Aquário se apresenta como montagem teatral, dramatugia. No entanto é um processo hibrido de performance dramática, música, vídeo-art, filmagem e projeção executado em tempo real; proposta ousada e intensa capaz de provocar reações de amor e repulsa em iguais proporções, a meu ver, este é seu mérito, um tanto enigmático (...)”

Gue Martine – Vista Skateboard Art


“(...) Criatividade, talvez seja a palavra, porque João e com certeza toda a sua afinada equipe (atores, dramaturgo, multimídia, etc) esbanjam na criação de imagens que causam forte impacto sensorial em seus espectadores. Achados maravilhosos. Propostas radicais, ousadia. (...) Fazia tempo que uma peça não me provocava tanto. No marasmo desértico que anda o nosso teatro, ver a peça do João é como chegar num oasís. A construção dramaturgica de Diones Camargo é raro brilho, principalmente na voz e no corpo dos atores. (...) A peça fica com a gente, fica na gente. Remexeu o meu aquário de imagens, recordações, situações. Teatro puro.

Roberto Oliveira - Modesto Fortuna


"Fui ver Teresa e o Aquário e sai mal do teatro. E ao mesmo tempo muito feliz. A impressão que eu tive é que estava diante de algo realmente novo, não novo no mundo da arte (o espetáculo é uma explosão de referências maravilhosas), mas novo aos olhares de Porto Alegre (...).

Felipe Vieira de Galisteo


“(...) vale a pena tirar suas bundas de casa e ir ao teatro ver Teresa e o Aquário, que é um espetáculo irônico, divertido, catártico e muito bonito (...)”

Mari Messias


"(...) Vi no palco um pouco de cada e mais uma infinidade de referências e coerências com o que admiro de melhor de todas artes. Que felicidade (...)"

Fernando Bakos


(...) Fui envolvida, foi isso. Duas horas que mais pareceram dez minutos imersa no aquário de Teresa (...) Desse aquário, cada um pesca o que quiser.”

Cami Farina - Maria Cultura

sábado, 18 de julho de 2009

terça-feira, 14 de julho de 2009

EM TRÂNSITO - 4º Espetáculo da Cia. Espaço em BRANCO


Com orgulho estreiamos na Sala Qorpo Santos - UFRGS nosso novo espetáculo
EM TRÂNSITO
com Lisandro Bellotto
Direção Sissi Venturin
Luz Mariana Terra
Dramaturgia e Multimídia João de Ricardo
Fotos Bruno Gularte Barreto

O Espetáculo cumpriu temporada de uma semana, com seis apresentações, durante a Mostra do DAD - Departamento de Arte Dramática UFRGS

sábado, 11 de julho de 2009

Amigos e Imagens V ...

Presente de Dudu...

domingo, 5 de julho de 2009

PaSSageirO

O menino sobe a lomba, sobe a lomba da escola, sobe com as costas pesadas, com o passo amortecido de cadarços ao contrário. A lomba é alta, é longa.
Quando ele estava saindo de casa ainda todos dormiam, ele estuda de manhã, todo dia de manhã, todo dia cedo antes da rua toda.
Lá no alto o prédio é grande mesmo longe. É enorme mais ainda por dentro, muitos degraus e painéis e colunas como pirulitos de caracóis enrolados por comprido, minhocas, parafuso. O eco, há muitos muitos mais que ele só, há eles todos dele mesmo, eles que sabem tudo que ele sabe.
A lomba escorre para baixo e ele passo a passo sem cadarços iguais.
No caminho as pedras e suas divisões impisáveis e as linhas retas dos portões, ele não pode encostar, ele escapa das frestas dos vãos, alto joelho alcança o passo.
E a pausa...

No chão... o pequeno corpo, fóssil ainda quente de um filhote de passarinho.
A pausa para olhar para baixo, no chão o mortinho roxo, transparente, verde. O bico enorme, os olhinhos com as pequenas pálpebras como casquinhas de pele de lagartixa, ele está caído. Ainda sem penas ele foi ao mundo cedo demais, desbravar sem saber voar.
O garoto toma coragem de se agachar para encostar no corpinho frio. Ainda se pode escutar o pio dos irmãozinhos no ninho alto do ar condicionado vizinho, casa de passarinho.
Coitado! acha o menino e sente que não há por que vacilar, toma o pequeno nas mãos e fica admirado com o peso nenhum, com a leveza cheia de morte, cheia de pavor de abandono. Como uma carcaça resta na terra, sem vida a alma o ar. Parece uma dúvida, parece que ele pode acordar se cutucar ou sacudir. Mas o garoto não tenta, ele espera o tempo, o tempo todo de uma eterna pausa. Ele resta ali, com o rosto em direção ao braço erguido parado e a mão firme.
O passarinho é nu na mão nua, é cru na pele clara, é criança depois de feto. Diante do fitar espanto há choro e lágrima de um menino perdido no caminho de um imenso cheio de vácuo, cheio de nada e vergonha de um enorme castelo de mármore que diz o que ele deve saber; ele pára no caminho porque se perdeu do ninho, porque ele lembrou da foto de quando era nu bebezinho no colchão florido sem lençol da praia no álbum do desenho do neném com roupa de coelho azul, a sua foto antiga, nu deitado no colchão. E o passarinho em sua mão comovida, envólucro apenas é o corpo vivo, apenas roupa do fogo intenso do verdadeiro ser.
Não há tempo para ficar, então ele encontra o canteiro próximo e abre um buraquinho na terra ainda cheia de sereno, a umidade enfia nas unhas a lama de terra fria, e a mão limpa leva o defuntinho até o buraco. Cuidado para colocá-lo certo, para acomodar a forma de pássaro que não cresceu para voar. Ele não vai longe, escondido coberto de terra vai abatumar, derreter, esfarelar. O menino sabe bem o que vai acontecer: o seu amigo vai virar um dinossauro, um fóssil milenar, alguém verá um dia...
A calça serve para limpar a mão da sujeira, esfrega os dedos pretos. E deixa ali o seu filhote de viagem, o seu encontro passageiro com a morte. A mão que amança o passarinho nunca vai esquecer que tocou o eterno, que salvou a pausa de um passo descuidado para ser um fóssil singelo. A memória de um encontro acaso no caminho rotineiro, do percurso interrompido de um dia inteiro, de uma vida toda escondida no canteiro.


Pintura de Wei Jia "Discover"

chac chac chac

É noite, estou sentada trabalhando em frente ao computador e começo a escutar da rua um barulho compassado de algo que raspa a calçada. Levanto e vou à janela ver se é algum mendigo lixando algo, enfim, dessas coisas de mendigos e cracks e lixos de sempre no Brasil.

Mas vejo um senhor de blusão escuro, sacola de supermercado pendurada no antebraço esquerdo caminhando sem dobrar os joelhos, arrastando um pé e outro, um pé e outro, um pé e outro no chão, de sapato marrom, ele é até ágil neste caminhar em que um passo tem a distância apenas do calcanhar ao dedo do outro pé. Ele está acompanhado de dois cachorros mais à frente, sem coleira ou guia. Ele não move o corpo, tem a coluna um pouco arqueada e é como um boneco de corda, chac chac chac chac ele caminha pela quadra. Os cachorros vão e voltam. E eu ali, do alto começo a chorar porque o velho é velho e só com a sacola, e seus joelhos mortos e eu aqui cheia de mim e nada e medo de ser como ele. Ele demora cerca de sete minutos para chegar ao final da quadra, ele até tenta ser mais rápido, mas os passos vão curtos curtos curtos e pesados. Até onde ele vai? E eu ali, parada, cheia de mim e lágrimas e pena. E ele enfim dobra a esquina. E eu nem sei até onde, ou se ele vai sumir. E eu ali, sem o velho, sem o som, só a velha árvore e a solidão.