domingo, 5 de julho de 2009

chac chac chac

É noite, estou sentada trabalhando em frente ao computador e começo a escutar da rua um barulho compassado de algo que raspa a calçada. Levanto e vou à janela ver se é algum mendigo lixando algo, enfim, dessas coisas de mendigos e cracks e lixos de sempre no Brasil.

Mas vejo um senhor de blusão escuro, sacola de supermercado pendurada no antebraço esquerdo caminhando sem dobrar os joelhos, arrastando um pé e outro, um pé e outro, um pé e outro no chão, de sapato marrom, ele é até ágil neste caminhar em que um passo tem a distância apenas do calcanhar ao dedo do outro pé. Ele está acompanhado de dois cachorros mais à frente, sem coleira ou guia. Ele não move o corpo, tem a coluna um pouco arqueada e é como um boneco de corda, chac chac chac chac ele caminha pela quadra. Os cachorros vão e voltam. E eu ali, do alto começo a chorar porque o velho é velho e só com a sacola, e seus joelhos mortos e eu aqui cheia de mim e nada e medo de ser como ele. Ele demora cerca de sete minutos para chegar ao final da quadra, ele até tenta ser mais rápido, mas os passos vão curtos curtos curtos e pesados. Até onde ele vai? E eu ali, parada, cheia de mim e lágrimas e pena. E ele enfim dobra a esquina. E eu nem sei até onde, ou se ele vai sumir. E eu ali, sem o velho, sem o som, só a velha árvore e a solidão.

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