quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A Aceitação do Caos e o Suicídio do Cotidiano*


*Texto publicado originalmente no blog normal peolple BORE ME


"Eu aceito o caos. Só não tenho certeza se ele me aceita.", disse certa vez o Dylan ou o Rimbaud, não sei ao certo. Pois dia desses, mexendo na bagunça que acumulo na minha estante, encontrei um pequeno caderno de anotações. Ao folheá-lo, lembrei de um determinado período deste ano: era lá por Abril ou Maio; fazíamos a segunda temporada consecutiva de Teresa e o Aquário, na Sala Álvaro Moreyra. Sissi, Leo, Kalisy, João, Bruno, Lisandro, Roger e eu costumávamos sair do teatro pra irmos jantar juntos e depois beber em bares por aí, aproveitando esses momentos em que um objetivo comum nos reunia. E assim, sorvendo o quanto nossos trocados e moedas ainda podiam nos presentear, esquecíamos - como é costume - as decepções e angústias que cada um trazia consigo e que, naquela época, ainda era pulsante para alguns de nós. Nessas noites, onde só o que restava era seguir o imperativo do tempo e esperar que ele mesmo - causador de certos ferimentos - fizesse seus curativos invisíveis, nós confrontávamos a tristeza com álcool e gargalhadas ferozes (algo do tipo: "se ela é foda, eu sou ainda mais!").

E foi durante uma dessas noites inspiradas que inventamos um jogo: a partir de palavras aleatórias e sem qualquer obrigação ou regra específica, exceto o divertimento, criávamos pequenos textos poéticos. Pequenos regurgitamentos de memórias, imagens e sonoridades que pulavam - elas também - bêbadas sobre a mesa; se a um ocorria algo, outros acrescentavam palavras e frases, mexiam aqui e ali na estrutura, num processo de anotação rápida como relâmpagos de inspiração que nos esforçávamos pra registrar - sabedores que somos da brevidade dos instantes.

Assim, noite após noite, foram surgindo os textos e os desenhos que hoje tenho guardados nas páginas destes cadernos. Assim também, misturados uns aos outros, organizamos a nossa ode ao caos e à indisciplina; rabiscos com garranchos ilegíveis, que denotam mais a empolgação daqueles instantes do que o descuido da pressa. Objetos raros, que trazem em si um pouco da imaginação de cada um, e de todos nós como um grupo conectado. E esses momentos despretensiosos - e às vezes até ingênuos - serão sempre lembrados por mim como momentos vividos entre amigos, onde os drinks e a liberdade criativa nos davam o que de mais divertido podemos ter na vida: a sensação de que no fundo o que fazemos é (e sempre será, devido à sua própria natureza) uma grande brincadeira - nonsense, talvez, mas imensamente prazerosa - apesar das dores que eventualmente temos que suportar.

Então, reproduzo abaixo o segundo texto desta série que a Sissi apelidou de "Poeminhas de Bar", ou também, numa desarticulação da fala, "Poesinhas de Mar" (clique aqui para ler os primeiros que a Sissi postou no blog do Teresa). Foi este aí embaixo que eu encontrei em meio à bagunça do meu quarto e que me fez finalmente decidir mostrá-los. Prometo que a partir de hoje postarei um por dia, antes que o ano termine. Mas antes ainda - e já antecipando os momentos parecidos que virão em 2010 - um brinde aos bons amigos, às noites de embriaguez e ao "desregramento de todos os sentidos"!


#2


Astrolábio

descascado

infecto

de Vênus.


(Kalisy Cabeda e Diones Camargo)


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