quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

mas não cai...

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é verdade, tudo que desce, sobe






"se caiu, eu que aprenda a levitar"
Wisnik


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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

InesVanLamsweerde&VinoodhMatadin

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Ines Van Lamsweerde & Vinoodh Matadin

Amsterdãn


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sleep walkers

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Zena Holloway






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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O céu lilás

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O céu lilás

Na areia havia cinco meninos, entre 6 e 8 anos. Eles corriam de sungas coloridas. Eram como foguinhos, lobinhos, em grupo em vai-e-vens de perseguições amigáveis e estátuas de sal. Os meninos vivos em seus pequenos corpos de maresia. A alegria como motivo de existir. Contagiantes. Eu via à distância os pequenos deslumbrantes, quase nervosos de tanta ânsia uns pelos outros. Jovem força e brutalidade ainda escondida num projeto de homem. Mas já essência meio ogra, meio monstra em fazer caretas horrendas para a foto e, se for preciso sorrir depois, não será sério. Os meninos eram lindos, cada um diferente. Ainda doce olhar, o fato mirabolante e fantástico sobre ele e a onda do mar. O grande misterioso apenas desbravado na beirinha, entre pulos e punhos fechados de vontade. Um deles usava boias nos braços. (eu me lembro delas em mim.) Ele estava ancorado no espaço, as boinhas o penduraram no ar e qualquer passo era uma coragem. Era o menorzinho de braços caídos passando pelas bolhas de ar, suas asinhas salvadoras, mas imóveis. O maiorzinho era mais veloz, o cabeçudo. O cor-de-camarão tinha pernas longas e sombrancelhas anciosas quando corria para não ser capturado. Um castanho de camiseta, outro de braços tinhosos, como um macaquinho.
Na praia eu e eles e todos entre as quatro direções possíveis. Na praia diante do enorme mar eu me acalmo. Sua maritmidade age sobre as emoções e aflições. O gigante mistério ali em frente e os homens na areia como que esperando que ele avance, que transborde. A tela de areia é um cinema paraíso, as famílias passam, as bolas, os cachorros, os amantes, as imagens e miragens.
No dia de Nossa Senhora dos Navegantes Yemanjá eu estava com ela em seu véu de água, deixando nosso silêncio falar. Um silêncio de murmúrios e suspiros, suor salgado misturando espumas e embalos. Quando visto o véu, peso nenhum do corpo ou da mente, livre de mim atormentada, mas molhada de perdão e tempo. Calma. Calma.
Eu ainda quero viver na praia. Eu ainda quero estar mais perto da tranqüilidade, entre os corpos semi-nus, a brisa, o céu inteiro possível de ser visto nos limites da terra. O som.
Aqui eu lembro. Eu lembro.
Aqui é possível estar descalço, sereno e ter coragem.
De noite, a lua refletida na água e mais nada, e tudo que cabe no coração. Não há solidão mais inteira que em companhia da grande mãe, eu deitada em seu útero formado entre o chão e o céu, a terra e o mar.




Nota fúnebre:
Os restos humanos abandonados na areia não sangram, mas fazem chorar a beleza. São pedaços de descaso, a cegueira, os plásticos e garrafas e latas, as fraldas, canudinhos e tampinhas, o absurdo egoísta, peles de substâncias, embalagens consumidas e esquecidas. Quisera os homens carregassem as carcaças em si. Enquanto fizerem da natureza latrina, seu túmulo na merda, surpresa: sua própria casa imunda, a rua inundada, a alma poluída.

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sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

sopro

Ângela - Eu desmaio à toa.
Na última vez foi questão de segundo. Caio felizmente na cama e eis o vazio, e logo depois eu dizia a mim mesma: não foi nada, já passou. Alô! Alô! Picasso! Vem me ver, por favor especial. Sou um pinto depenado.
Mas que foguete! Comemorando o quê? pergunto eu.
Eu me olho de fora para dentro e vejo: nada. Meu cachorro está inquieto. Há alguma coisa no ar. Uma transmissão de pensamentos. Por que as pessoas quando falam não me olham? Olham sempre para outra pessoa. Eu me ressinto. Mas Deus me olha bem na menina dos olhos. E eu o encaro de frente. Ele é meu pai-mãe-mãe-pai. E eu sou eles. Acho que em breve vou ver Deus. Vai ser O Encontro. Pois eu me arrisco.
(...)
Quando pequena eu rodava, rodava e rodava em torno de mim mesma até ficar tonta e cair. Cair não era bom mas a tonteira era deliciosa.
Ficar tonta era o meu vício. Adulta eu rodo, mas quando fico tonta, aproveito de seus poucos instantes para voar.
Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo. Letargia. A sensibilidade trêmula tornando tudo ao redor mais sensível e tornando visível, como um pequeno susto, o impalpável. Às vezes acontece um desequilíbrio equilibrado assim como uma gangorra que ora está no alto, ora está no baixo. E o desequilíbrio é exatamente o seu equilíbrio.

Clarice Lispector