terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Comentário sobre ALICE

A Gaby Benedyct foi à Fazendinha. Esteve no Chá de ALICE e postou um comentário que me deixou feliz feliz. Divido com meus colegas criadores de ALICE as honras. O comentário está nos blogs:
www.azulgaleria.com.br
www.artistasgauchos.com.br

e abaixo:


ALICE de Sissi Venturin – Hibridismos entre Teatro e Artes Visuais

Assisti a última montagem da atriz e criadora Sissi Venturin, uma Alice no País das Maravilhas livremente adaptada da obra de Lewis Carroll. Uma apresentação/pré-estréia pra lá de VIP numa destas festas retiradas, numa fazenda onde só foi quem ficou sabendo ou conhecia o Coelho...

Todo o local em si já era mágico: um campo enorme iluminado por tochas, ambiente surreal perfeito para a montagem de uma lona iluminada no meio das árvores e onde o palco era demarcado por louça de chá. O público que se atinou primeiro, ao mesmo tempo platéia era também convidado do/da Chapeleiro Louco; os demais se acomodaram logo atrás, todos sentados em círculo sobre a lona no chão. No centro da lona, projeção. Nos pratos, novelos de lã, aspecto cênico não por acaso que se mostra fio condutor e coadjuvante da história adaptada por Sissi.

Dizer que eu farei uma análise crítica dos aspectos dramáticos desta apresentação seria ingênua presunção da minha parte já que, com certeza, críticos da área tem mais qualificação do que eu pra isso, mas, ouso, a partir de meus conhecimentos e experiências em artes visuais, e atuais estudos sobre performance, registrar impressões sobre este trabalho tão belo e ao mesmo tempo uma guilhotinada na mente. Logo, entenda-se minhas descrições visuais...

A concepção de figurinos, acessórios de cena, cenários, é ao mesmo tempo simples e sofisticada, já que tudo se passa sob uma lona iluminada ao ar livre, sem os recursos que bastidores de um teatro possam esconder. Pelo contrário, altamente criativos, Sissi e equipe (veja ficha técnica abaixo) trabalham fazendo-nos esquecer que trata-se de um monólogo, tal intensidade do ritmo criado pelas ricas sugestões visuais mescladas com a interpretação. A concepção de luz, e principalmente as projeções, são fundamentais para a construção das cenas, onde também vários momentos interagem ou mesmo substituem a atriz, protagonizando a ação, desviando/seduzindo nossa atenção enquanto ela troca de figurino.

E já que citei o monólogo, sustentado por Sissi, ao meu ver, magistralmente, com variações de ritmos, sutilezas sussurradas contrapostas por estridentes ânsias, com evidentes nuances de personagens, sua musicalidade sinistra e ao mesmo tempo sereia, mas enfim, essa não é minha área....ressalto seu domínio corporal/visual para a construção do momento Lagarta. Tenho certeza que todos na platéia viam em sua frente uma lagarta fumegante que se alternava simultaneamente com uma Alice curiosa, gerada apenas com a sugestão do próprio corpo da atriz. Ao final da cena, a forma como Sissi arqueia costas, seu movimento, demonstra estudo minucioso que não deixa dúvidas sobre o inseto fabuloso e atriz profissional que vemos. Afinal, não é de agora que Sissi mostra o quanto se entrega a seus personagens, não poupando corpo ou esforços para entregar ao público uma interpretação cujo limite é a absoluta imersão no personagem.

Sem querer estragar maiores surpresas, a fábula segue com corações que são compartilhados com o público, uma explosão de mashmellows e um cortar de cabeças aterrorizantes de uma enlouquecida rainha de copas. Não posso deixar de falar do figurino genial dessa rainha, com uma coroa que remete às relações entre loucura e poder pra lá de feminina, seu olhar de espelhos que sem focar ninguém também sugere uma engraçada cegueira e também de sua gola vitoriana que lhe permite morrer muitas vezes em cena. Depois dela, resta um final apoteótico que te deixa solitário em meio de uma fábula que se desvanece. Ficamos Alice´s....

Por último, esclareço que não sou parente nem amiga próxima, mal a conheço, no máximo posso dizer que sou muito fã e agradecida por proporcionar momentos de deslocamento da realidade com arte de boa qualidade. Logo, a quem me proporciona isto, justifica este texto para indicar aos meus amigos que corram pra ver quando ouvirem falar de futuras novas estréias (a princípio, prevista pra março 2010).

ALICE:
uma reflexão performática sobre a obra de Lewis Carroll
de Sissi Venturin
Cia. Espaço em BRANCO
Iluminação: Leonardo Machado
Operação de video e áudio: Leonardo Remor
Videos:
Concepção: Sissi Venturin
Direção: Leonardo Remor
Fotografia e Montagem: Tiago Coelho
Finalização de video e áudio: Marcos Lopes
Colaboração criativa, afetiva e intuitiva:
Marina Mendo
e João de Ricardo


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