quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Henry

" Relembro de relance as mulheres que conheci. É como uma cadeia que eu tivesse forjado com minha própria miséria. Cada elo está preso ao outro. Um medo de viver separado, de permanecer nascido. A porta do útero sempre destrancada. Medo e anseio. No fundo do sangue o puxão do Paraíso. O além. Sempre o além. Tudo precisa ter começado com o umbigo. Cortam o cordão umbilical, dão-lhe um tapa na bunda e – pronto – vocês está aqui fora do mundo, desgovernado, um navio sem leme. Olha para as estrelas, e depois para o umbigo. Olhos crescem em você por toda a parte – nas axilas, entre os lábios, nas raízes dos cabelos, nas solas dos pés. O que é distante torna-se próximo, o que é próximo torna-se distante. Para dentro e para fora, um fluxo constante, um soltar de peles, um virar de dentro para fora. Você vagueia assim anos e anos, até encontrar-se no centro morto e lá vagarosamente apodrece, vagarosamente se reduz a pedaços, dispersa-se de novo. Só o seu nome permanece. "

Henry Miller

{Trópico de Câncer}

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